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Eu, o trabalho e o estresse

Foto do escritor: giselle chassot Lagogiselle chassot Lago



Eu sei bem que há muitos sedianos que não conseguem manter uma rotina regular de trabalho. Tipo oito horas por dia, escritório, cadeira desconfortável, muito tempo em pé. Até admito que a minha profissão pode não ser a mais adequada para algumas pessoas, mas o fato é: melhor com trabalho do que sem.

Não falo nem da grana, porque isso daria mais que um post; daria um livro inteiro. Mas da maravilhosa sensação de fazer o que gosta e de fazer parte.

Claro que quando preciso acompanhar um evento longo e ficar horas em pé, isso é um desgaste danado. Em pouco tempo, estou morrendo de dor e procurando qualquer lugar onde eu possa me sentar.

Mas, como eu amo escrever e estar perto de onde as coisas acontecem, o que me provoca dor de verdade é justamente ficar em casa. Eu não sei se existe algum estudo sobre isso, ou mesmo se há uma lógica científica, mas trabalhar, no meu caso, é terapêutico.

E, antes que me acusem de estar romantizando, explico logo que estou muito velha para romantizar, seja o trabalho, seja a doença. Não acho nada bom sentir dor, nem ter que lidar com a realidade desglamurizada do jornalismo. O último trabalho que tive me pagava, proporcionalmente, menos do que eu ganhava no meu primeiro emprego como repórter. Isso não é engraçado. É duro e é injusto.

Mas bem pior é a sensação de que você está fora do jogo. Ao menos, para mim. Escrever garante uma sensação de pertencimento que eu não tenho de nenhuma outra forma. Talvez por isso, nunca pensei na minha vida sem trabalho. Nem aposentada eu planejo ser.

A questão é que a gente é cheio de rótulos, sabe? Lá atrás, eu era novinha demais. Depois, a recém-casada que iria engravidar em breve; em seguida, a especialista em economia que não se encaixaria em nenhuma outra área. Na sequência, a mãe de uma criança pequena com otites de repetição. Depois, a profissional que não curtia viajar a trabalho, principalmente sem planejamento, porque precisava rolar escala com o marido, também jornalista. A que não deixava de levar menino ao médico, à terapia, à fonoaudióloga e dava um jeito de ajustar a vida para tudo acontecer de manhã bem cedinho, antes do expediente. Aí, depois, a repórter que não conseguia correr atrás das fontes, por conta de um joelho ruim. A que caía e se arrebentava. E, por fim, a senhorinha com dor crônica.

Não importa se todo mundo passa por isso. Não importa se essa é a realidade de todos os casais de jornalistas que eu conheço. Essa foi a MINHA vida e é dela que estou falando. Assim como é minha a vida que parece parar quando não estou trabalhando.

Parece uma eterna pandemia. O tempo está passando lá fora e eu não estou produzindo. E eu produzo desde que me entendo por gente. Sempre tive tarefas, missões, objetivos. Parada em casa, só tenho estresse. Uma sensação danada de perda de tempo.

A adrenalina funciona para mim como uma boa dose diária daquele analgésico bem forte que qualquer sediano usa para conseguir se levantar. O anestésico não causa dependência, já que uso apenas quando é absurdamente necessário e passo dias inteiros sem ele. Mas o trabalho... ah, desse sim eu tenho dependência. Preciso.

Tudo isso pra dizer que, depois de um tempo enlouquecida de tanto trabalho, volto a produzir aqui. Volto a falar de mim e da doença crônica que mora comigo. E que dói. Mas, com ela ou sem ela, eu sigo rindo.

 
 
 

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